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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

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Folha de São Paulo, 02 de dezembro de 2010


Folha de São Paulo, 01 de dezembro de 2010

Cotidiano:Vidas que se perdem com as balas

Sentado a beira da porta, observando a mata iluminada, contando as estrelas do céu, ele escuta, vindo da sala de casa, o som da vinheta de abertura do jornal regional. O apresentador chama a primeira notícia, fala da morte de uma criança por bala perdida, ocorrida no Bairro Nordeste de Amaralina, em Salvador. Não hesita e corre pra ver. Ao chegar em frente da tv, se emociona com a narração do acontecido feita pelo repórter.

Não poderia ser diferente. A vida de um menino de 10 anos se perdeu com uma bala, disparada, segundo moradores do local, por quem deveria realizar a segurança da sociedade, os policiais. Joel Santana era o nome dele. Por ironia do destino, mataram o garoto propaganda da Bahiatursa, empresa de turismo do governo do estado.

Em um comercial da instituição, Joel relatou qual era o seu desejo: "O meu mestre é meu pai. Ele ensina até gringo a cantar. Quando eu crescer, quero ser mestre de capoeira".
Sendo levado pelo próprio corpo, seu João acomoda-se na sua poltrona preferida e percebe a força que possui a realidade para destruir os sonhos. Mas, também reconhece que chega a ser impossível fugir dela.


Todos os dias seu João assiste, por meio do jornal, as diferentes interpretações que são dadas sobre essa realidade. De vez em quando rir, de vez em quando chora. Algumas vezes se anima, outras sente-se impotente. Ou vivencia todos estes sentimentos simultaneamente. O velho herói perdido no sertão nordestino ainda quer encontrar forças para sair em defesa do bem. Só lhe resta descobrir onde e como.


Choca-se com os dramas de famílias como a do Joel. Com a guerra urbana no Rio, que deixou entre outras vítimas uma garota de 14 anos. Ela estava em casa, em frente ao computador, quando foi atingida por uma bala perdida. Mais uma vida se perdeu com a bala. No telejornal, o depoimento da vizinha, que acompanhou a mãe durante o enterro da filha: "Moço, quando vai parar isso? Quando que um inocente vai parar de pagar por um culpado?"

João muda de canal. No seguinte, vê policiais dominando morros, traficantes debandando pelos matos, tanques de guerra nas ruas, fuzis e escopetas em circulação, gente correndo pra lá e pra cá. Não é filme de ação. A guerra urbana continua. Quando está história terá um final feliz? Desta vez quem pergunta é seu João.

Exemplo de Crônica: O sexto sentido

Por: Rubem Alves
Os cinco sentidos são, a um tempo, seres da “caixa de ferramentas” e seres da “caixa de brinquedos”. Como ferramentas os sentidos nos fazem conhecer o mundo. A cor vermelha no semáforo diz que é preciso parar o carro. O som da buzina chama a minha atenção para um carro que se aproxima. O cheiro estranho na cozinha me adverte de que o gás está aberto. Como brinquedos os cinco sentidos me informam que o mundo está cheio de beleza. Eles são órgãos sexuais: com eles fazemos amor com o mundo. Dão-nos prazer e alegria.

Os cinco sentidos, para realizarem suas funções de poder e prazer, exigem a presença do objeto a ser conhecido ou a ser amado. Para sentir a beleza de um ipê florido é preciso que haja ipês floridos – como agora. Em julho os ipês rosa, em agosto os ipês amarelos, em setembro os ipês brancos. Já até sugeri que um músico compusesse uma sinfonia em três movimentos dedicada aos ipês. Para se sentir a beleza triste do canto de um sabiá é preciso que haja um sabiá cantando. Para se sentir o perfume de um jasmim é preciso que haja um jasmim florido. Para se sentir o gosto bom de uma laranja é preciso que haja uma laranja. E para se sentir a delícia de um beijo é preciso que haja uma boca que me beije... Os cinco sentidos só fazem amor com coisas existentes, no presente. Eles vivem no “aqui” e no “agora”.

Mas há um sexto sentido dotado de propriedades mágicas, um sentido que nos permite fazer amor com coisas que não existem... Esse sentido se chama “pensamento”.

Digo que o pensamento é um sentido mágico porque ele tem o poder de chamar à existência coisas que não existem e de tratar e as coisas que existem como se não existissem. E é dele que surge a grandeza dos seres humanos. O pensamento nos dá asas, ele nos transforma em pássaros!
“Mas que realidade têm as coisas que não existem?”, poderão perguntar os filósofos. Aí serão os poetas que darão respostas aos filósofos. “Que seria de nós sem o socorro das coisas que não existem?” , perguntava Paul Valery. E Manoel da Barros acrescentaria: “As coisas que não existem são mais bonitas...” Leonardo da Vinci pensava e desenhava máquinas que não existiam e que só poderiam existir num futuro distante. Mas que alegria aquelas entidades não existentes lhe davam! Por isso ele as guardava como segredos perigosos que, se conhecidos, poderiam levá-lo à Inquisição. Mas o prazer valia o risco.

Beethoven estava completamente surdo. No seu mundo os sons não existiam. Mas do silêncio dos sons que não existiam ele fez surgir, no seu pensamento, a Nona Sinfonia, que canta a alegria da vida.

Faz uns meses resolvi reler o Cem anos de solidão, do Gabriel Garcia Marques. Que amontoado de não-existentes! Invencionices de alguém que trata o existente como se não existisse. Pensei, de brincadeira, que ele deveria estar bêbado quando escreveu o livro, tantos são os absurdos maravilhosos que ele constrói. Uns tolos disseram que aquele livro era uma parábola sobre a América Latina. Ou seja, disseram que o livro falava sobre uma coisa que existia: o realismo fantástico de Gabriel Garcia Marques, depois de passar pelo crivo da hermenêutica, nada mais seria que uma crônica histórica disfarçada. Nada mais longe da verdade. O livro Cem anos de solidão só existe no espaço imaginário do que não existe.E apesar de saber que aquilo que estava escrito era mentira, que nunca acontecera porque era impossível que acontecesse, eu ri, sofri, vivi. Meu corpo fez amor com o inexistente. O que não existe nos faz viver. Não vivemos só de pão. Somos comedores de palavras. E as palavras operam em nós estranhas transformações. Quantas pessoas eu degolei com minha espada de samurai ao ler o Sho-gun!

Que extraordinário exercício de alienação é a literatura! Mergulhados num livro a realidade que nos cerca deixa de existir. Estamos inteiramene no mundo do pensamento. Se Marx estava certo ao afirmar que “o homem é o mundo do homem” então, na literatura, tornamo-nos criaturas dos muitos mundos da fantasia. Tornamo-nos personagens de uma estória inventada, “atores” de teatro. “Não é incrível que um ator, por uma simples ficção, um sonho apaixonado, amolde tanto sua alma à imaginação, que todo se lhe transfigure o semblante, por completo o rosto lhe empalideça, lágrimas vertam dos seus olho, suas palavras tremam e, inteiro seu organismo se acomode à essa mera ficção? ( Shakespeare, Hamlet, ato 2º., cena II). Os atores são seres alienados da realidade por estarem vivendo totalmente no mundo da ficção. É nisso que se encontra “a virtude paradoxal da leitura, que consiste em fazer-nos abstrair do mundo para lhe encontrarmos um sentido.” ( Daniel Pennac, Como um romance, ASA, Portugal, p. 17 ). Todo artista é um fingidor. Todo leitor tem de ser um fingidor. Fingir, brincar de fazer de contas, tratar as coisas que são como se não fossem e as coisas que não são como se fossem! É dessa loucura que surgem as mais belas criações da arte e da ciência. Por isso eu me daria por feliz se a educação fizesse apenas isso: introduzir os alunos no mundo mágico do pensamento tal como ele acontece na literatura.. Quem experimentou a magia do pensamento uma única vez não se esquece jamais...

Crônica


A crónica difere da notícia, e da reportagem porque, embora utilizando o jornal ou a revista como meio de comunicação, não tem por finalidade principal informar o destinatário, mas reflectir sobre o acontecido. Desta finalidade resulta que, neste tipo de texto, podemos ler a visão subjectiva do cronista sobre o universo narrado. Assim, o foco narrativo situa-se invariavelmente na 1ª pessoa.

Poeta do quotidiano, como alguém chamou ao cronista dos nossos dias, apresenta um discurso que se move entre a reportagem e a literatura, entre o oral e o literário, entre a narração impessoal dos acontecimentos e a força da imaginação. Diálogo e monólogo; diálogo com o leitor, monólogo com o sujeito da enunciação. A subjectividade percorre todo o discurso.

A crónica não morre depressa, como acontece com a notícia, mas morre, e aqui se afasta irremediavelmente do texto literário, embora se vista, por vezes, das suas roupagens, como a metáfora, a ambiguidade, a antítese, a conotação, etc.
A sua estrutura assemelha-se à de um conto, apresentando uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão.

Fonte: www.prof2000.pt/users/jmatafer/.../cronica.htm