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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

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CAU GOMEZ
3º Prêmio
Ronaldinho Gaúcho
Jornal A Tarde
BAHIA

PAULO CARUSO
Menção Honrosa
Estatúa da Liberdade
Diário de São Paulo
SÃO PAULO

BAPTISTÃO
1º Prêmio
Papa Bento XVI
Revista Veja
SÃO PAULO



Charges

Folha de São Paulo, 02 de dezembro de 2010


Folha de São Paulo, 01 de dezembro de 2010

Cotidiano:Vidas que se perdem com as balas

Sentado a beira da porta, observando a mata iluminada, contando as estrelas do céu, ele escuta, vindo da sala de casa, o som da vinheta de abertura do jornal regional. O apresentador chama a primeira notícia, fala da morte de uma criança por bala perdida, ocorrida no Bairro Nordeste de Amaralina, em Salvador. Não hesita e corre pra ver. Ao chegar em frente da tv, se emociona com a narração do acontecido feita pelo repórter.

Não poderia ser diferente. A vida de um menino de 10 anos se perdeu com uma bala, disparada, segundo moradores do local, por quem deveria realizar a segurança da sociedade, os policiais. Joel Santana era o nome dele. Por ironia do destino, mataram o garoto propaganda da Bahiatursa, empresa de turismo do governo do estado.

Em um comercial da instituição, Joel relatou qual era o seu desejo: "O meu mestre é meu pai. Ele ensina até gringo a cantar. Quando eu crescer, quero ser mestre de capoeira".
Sendo levado pelo próprio corpo, seu João acomoda-se na sua poltrona preferida e percebe a força que possui a realidade para destruir os sonhos. Mas, também reconhece que chega a ser impossível fugir dela.


Todos os dias seu João assiste, por meio do jornal, as diferentes interpretações que são dadas sobre essa realidade. De vez em quando rir, de vez em quando chora. Algumas vezes se anima, outras sente-se impotente. Ou vivencia todos estes sentimentos simultaneamente. O velho herói perdido no sertão nordestino ainda quer encontrar forças para sair em defesa do bem. Só lhe resta descobrir onde e como.


Choca-se com os dramas de famílias como a do Joel. Com a guerra urbana no Rio, que deixou entre outras vítimas uma garota de 14 anos. Ela estava em casa, em frente ao computador, quando foi atingida por uma bala perdida. Mais uma vida se perdeu com a bala. No telejornal, o depoimento da vizinha, que acompanhou a mãe durante o enterro da filha: "Moço, quando vai parar isso? Quando que um inocente vai parar de pagar por um culpado?"

João muda de canal. No seguinte, vê policiais dominando morros, traficantes debandando pelos matos, tanques de guerra nas ruas, fuzis e escopetas em circulação, gente correndo pra lá e pra cá. Não é filme de ação. A guerra urbana continua. Quando está história terá um final feliz? Desta vez quem pergunta é seu João.

Exemplo de Crônica: O sexto sentido

Por: Rubem Alves
Os cinco sentidos são, a um tempo, seres da “caixa de ferramentas” e seres da “caixa de brinquedos”. Como ferramentas os sentidos nos fazem conhecer o mundo. A cor vermelha no semáforo diz que é preciso parar o carro. O som da buzina chama a minha atenção para um carro que se aproxima. O cheiro estranho na cozinha me adverte de que o gás está aberto. Como brinquedos os cinco sentidos me informam que o mundo está cheio de beleza. Eles são órgãos sexuais: com eles fazemos amor com o mundo. Dão-nos prazer e alegria.

Os cinco sentidos, para realizarem suas funções de poder e prazer, exigem a presença do objeto a ser conhecido ou a ser amado. Para sentir a beleza de um ipê florido é preciso que haja ipês floridos – como agora. Em julho os ipês rosa, em agosto os ipês amarelos, em setembro os ipês brancos. Já até sugeri que um músico compusesse uma sinfonia em três movimentos dedicada aos ipês. Para se sentir a beleza triste do canto de um sabiá é preciso que haja um sabiá cantando. Para se sentir o perfume de um jasmim é preciso que haja um jasmim florido. Para se sentir o gosto bom de uma laranja é preciso que haja uma laranja. E para se sentir a delícia de um beijo é preciso que haja uma boca que me beije... Os cinco sentidos só fazem amor com coisas existentes, no presente. Eles vivem no “aqui” e no “agora”.

Mas há um sexto sentido dotado de propriedades mágicas, um sentido que nos permite fazer amor com coisas que não existem... Esse sentido se chama “pensamento”.

Digo que o pensamento é um sentido mágico porque ele tem o poder de chamar à existência coisas que não existem e de tratar e as coisas que existem como se não existissem. E é dele que surge a grandeza dos seres humanos. O pensamento nos dá asas, ele nos transforma em pássaros!
“Mas que realidade têm as coisas que não existem?”, poderão perguntar os filósofos. Aí serão os poetas que darão respostas aos filósofos. “Que seria de nós sem o socorro das coisas que não existem?” , perguntava Paul Valery. E Manoel da Barros acrescentaria: “As coisas que não existem são mais bonitas...” Leonardo da Vinci pensava e desenhava máquinas que não existiam e que só poderiam existir num futuro distante. Mas que alegria aquelas entidades não existentes lhe davam! Por isso ele as guardava como segredos perigosos que, se conhecidos, poderiam levá-lo à Inquisição. Mas o prazer valia o risco.

Beethoven estava completamente surdo. No seu mundo os sons não existiam. Mas do silêncio dos sons que não existiam ele fez surgir, no seu pensamento, a Nona Sinfonia, que canta a alegria da vida.

Faz uns meses resolvi reler o Cem anos de solidão, do Gabriel Garcia Marques. Que amontoado de não-existentes! Invencionices de alguém que trata o existente como se não existisse. Pensei, de brincadeira, que ele deveria estar bêbado quando escreveu o livro, tantos são os absurdos maravilhosos que ele constrói. Uns tolos disseram que aquele livro era uma parábola sobre a América Latina. Ou seja, disseram que o livro falava sobre uma coisa que existia: o realismo fantástico de Gabriel Garcia Marques, depois de passar pelo crivo da hermenêutica, nada mais seria que uma crônica histórica disfarçada. Nada mais longe da verdade. O livro Cem anos de solidão só existe no espaço imaginário do que não existe.E apesar de saber que aquilo que estava escrito era mentira, que nunca acontecera porque era impossível que acontecesse, eu ri, sofri, vivi. Meu corpo fez amor com o inexistente. O que não existe nos faz viver. Não vivemos só de pão. Somos comedores de palavras. E as palavras operam em nós estranhas transformações. Quantas pessoas eu degolei com minha espada de samurai ao ler o Sho-gun!

Que extraordinário exercício de alienação é a literatura! Mergulhados num livro a realidade que nos cerca deixa de existir. Estamos inteiramene no mundo do pensamento. Se Marx estava certo ao afirmar que “o homem é o mundo do homem” então, na literatura, tornamo-nos criaturas dos muitos mundos da fantasia. Tornamo-nos personagens de uma estória inventada, “atores” de teatro. “Não é incrível que um ator, por uma simples ficção, um sonho apaixonado, amolde tanto sua alma à imaginação, que todo se lhe transfigure o semblante, por completo o rosto lhe empalideça, lágrimas vertam dos seus olho, suas palavras tremam e, inteiro seu organismo se acomode à essa mera ficção? ( Shakespeare, Hamlet, ato 2º., cena II). Os atores são seres alienados da realidade por estarem vivendo totalmente no mundo da ficção. É nisso que se encontra “a virtude paradoxal da leitura, que consiste em fazer-nos abstrair do mundo para lhe encontrarmos um sentido.” ( Daniel Pennac, Como um romance, ASA, Portugal, p. 17 ). Todo artista é um fingidor. Todo leitor tem de ser um fingidor. Fingir, brincar de fazer de contas, tratar as coisas que são como se não fossem e as coisas que não são como se fossem! É dessa loucura que surgem as mais belas criações da arte e da ciência. Por isso eu me daria por feliz se a educação fizesse apenas isso: introduzir os alunos no mundo mágico do pensamento tal como ele acontece na literatura.. Quem experimentou a magia do pensamento uma única vez não se esquece jamais...

Crônica


A crónica difere da notícia, e da reportagem porque, embora utilizando o jornal ou a revista como meio de comunicação, não tem por finalidade principal informar o destinatário, mas reflectir sobre o acontecido. Desta finalidade resulta que, neste tipo de texto, podemos ler a visão subjectiva do cronista sobre o universo narrado. Assim, o foco narrativo situa-se invariavelmente na 1ª pessoa.

Poeta do quotidiano, como alguém chamou ao cronista dos nossos dias, apresenta um discurso que se move entre a reportagem e a literatura, entre o oral e o literário, entre a narração impessoal dos acontecimentos e a força da imaginação. Diálogo e monólogo; diálogo com o leitor, monólogo com o sujeito da enunciação. A subjectividade percorre todo o discurso.

A crónica não morre depressa, como acontece com a notícia, mas morre, e aqui se afasta irremediavelmente do texto literário, embora se vista, por vezes, das suas roupagens, como a metáfora, a ambiguidade, a antítese, a conotação, etc.
A sua estrutura assemelha-se à de um conto, apresentando uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão.

Fonte: www.prof2000.pt/users/jmatafer/.../cronica.htm

Editorial :A censura ao humor e o Photoshop da vida real




Ruth de Aquino (Revista Época)

Se os humoristas chamassem José Serra de “Zé” e o infiltrassem com aquele sorriso congelado no meio de uma favela cenográfica e tosca, seriam acusados de ridicularizar o tucano. Mas, como a cena insólita aconteceu no programa do PSDB, ninguém processou o marqueteiro. Se o CQC e o Casseta & planeta exibissem o cão de José Dirceu como melhor amigo de Dilma Rousseff, poderiam ser multados por tentar associá-la ao ex-chefe do mensalão, como se a petista fosse herdeira não só do labrador Nego, mas de um período sinistro do PT. 
                                                                                                     
Após a estreia dos programas eleitorais, entre eles a abertura do “Discovery Marina Channel”, com a candidata verde estrelando uma peça futurista de efeitos especiais, finalmente deu para entender por que o humor político e sério foi amordaçado nesta eleição. Porque colocaria o dedo na ferida. Os programas dos candidatos são tão fictícios que a realidade sumiu. Tudo ficou de repente bom, reconfortante, para quem acredita nos seriados e nas novelas. 

“O Brasil é um país exótico mesmo. Os políticos fazem humor e os humoristas fazem passeata”, diz Marcelo Tas, do CQC, um dos atingidos por esse entulho da ditadura do Tribunal Superior Eleitoral – que interpreta a sátira política como ameaça à democracia. “Olha só”, afirma Tas com ironia, “estamos esperneando, mas nosso plano é absolutamente estúpido: uma passeata de protesto neste domingo em Copacabana!” 

Tas, Marcelo Madureira e Helio de la Peña foram procurados pela CNN e pela BBC de Londres. “Os cidadãos dessas democracias têm muita dificuldade de entender”, diz Tas. “Um político que tem medo do ridículo não pode ser candidato a presidente. O humor humaniza o candidato, o aproxima do eleitor. Nós apostamos no erro, na casca de banana, no nariz torto. Quando se tira o erro, apaga-se o humano. Nossos candidatos se escondem deles mesmos.” Políticos como Barack Obama e Nicolas Sarkozy muitas vezes se beneficiaram das caricaturas inteligentes e ácidas dos humoristas – volta e meia, subiam nas pesquisas logo após a transmissão dos programas. 

Após a estreia do ridículo horário eleitoral, deu para entender por que o humor político foi amordaçado.

Assistimos à campanha mais “photoshopada” e engessada da história brasileira. Tudo tem de ficar bonito, sorridente, raso, sem erro. O país está anestesiado, entorpecido. Não é só o humor que está em xeque, sob censura. Quem faz o papel de palhaço somos nós, os eleitores.

A rigidez dos cronômetros e a ditadura dos marqueteiros transformam esta eleição numa das mais chatas, melosas e apelativas de todos os tempos. Serra, aliás Zé, toca comovido as pessoas, acaricia uma mulher que chora e mostra fotos suas ao lado de Lula. Dilma, a criatura, desfila de roupa de ginástica, lembra os anos do cárcere, mas não a luta armada, conta que um dia rasgou dinheiro para dar esmola a um menino e enaltece a maternidade. Marina diz uma verdade: querem infantilizar os brasileiros com essa história de pai e mãe. Somos vítimas de uma grande pegadinha, do Oiapoque ao Chuí.

Fora da tela, a vida real teima em existir. Algumas imagens de nosso abismo social estão na série do jornal O Globo “Como vive o brasileiro”. Trinta e sete milhões de brasileiros, toda semana, ficam sem dinheiro da passagem para voltar para casa após o trabalho e são obrigados a buscar abrigo nas ruas. Dormem até na calçada de hospitais. O déficit de habitação no país é de 5,8 milhões de lares. Quando a moradia é de zinco, tábuas velhas e pedaços de papelão, se sentem privilegiados. Comunidades vivem sobre lixões, correndo risco de morrer. Mais da metade das cidades não dá destino adequado ao lixo. Sete milhões de domicílios não têm sequer coleta de lixo. Quase metade das casas no Brasil não tem coleta de esgoto. Treze milhões de brasileiros vivem sem banheiro e convivem com ratos em casa e bichos mortos nos canais. Analfabetos funcionais chegam a 30% da população. Jovens não conseguem emprego. 
Não se esqueça, o horário só é gratuito para os candidatos – você, contribuinte, é quem paga. Pode exigir, em contrapartida, um pouco mais de compromisso com a realidade. E que deixem o humor para quem sabe fazer. 

Jornalismo Opinativo


Desde o momento em que a imprensa deixou de ser empreendimento individual e se tornou instituição, assumindo o caráter de organização complexa, que conta com equipes de assalariados e colaboradores, a expressão da opinião fragmentou-se seguindo tendências diversas e até mesmo conflitantes.
Por mais que a instituição jornalística tenha uma orientação definida (posição ideológica ou linha política), em torno da qual pretende que as suas mensagens sejam estruturadas, subsiste sempre uma diferenciação opinativa (no sentido de atribuição de valor aos acontecimentos).
Isso é uma decorrência do processo de produção industrial, pois a realidade captada e relatada condiciona-se à perspectiva de observação dos diferentes núcleos emissores (empresa, jornalista, colaborador e leitor).
Nas aulas de Português, ano passado, fizemos um trabalho sobre os gêneros jornalísticos  opinativos, com base no livro ‘Jornalismo Opinativo’, do professor José Marques de Melo  (MELO, José Marques de; Jornalismo Opinativo – Gêneros Opinativos no Jornalismo Brasileiro; 3ª edição; Editora Mantiqueira; 2003). Segue abaixo um resumo da função de alguns deles:

1. Editorial
O Editorial é o gênero jornalístico que expressa a opinião oficial da empresa diante dos fatos de maior repercussão no momento. Popularmente, se diz que ele contém a opinião do dono da instituição jornalística. Isso acontece nas organizações de porte médio ou pequenas empresas, onde o controle financeiro fica nas mãos de um proprietário ou de sua família. Nas grandes instituições, o editorial reflete não exatamente a opinião dos seus proprietários nominais, mas o consenso das opiniões que emanam dos diferentes núcleos que participam da propriedade da organização.
Os atributos específicos do editorial, de acordo com o livro, são: impessoalidade (não se trata de matéria assinada, utilizando portanto a terceira pessoa do singular ou do plural); topicalidade (trata de um tema específico, dentro de limites precisos); condensalidade (breve e claro, poucas idéias, dando maior ênfase às afirmações); plasticidade (flexibilidade, apreende os fatos nos seus desdobramentos).

2. Comentário
O comentário é um gênero recentemente introduzido no Brasil. Surgiu como tentativa de quebrar o monopólio opinativo do editorial. Informado rapidamente e resumidamente dos fatos que estão acontecendo, o cidadão sente-se desejoso de saber um pouco mais e quer orientar-se sobre o desenrolar das ocorrências.
Trata-se de um gênero que mantém vinculação estreita com a atualidade, sendo produzido em cima dos fatos que estão ocorrendo. Vem junto com a própria notícia. Foi no rádio que o comentário encontrou sua maior expressão no jornalismo contemporâneo.
3. Artigo
A palavra artigo possui duas significações. O senso comum atribui-lhe o sentido de matéria publicada em jornal ou revista, não importando a natureza. As instituições jornalísticas, entretanto, identificam o artigo como um gênero específico, uma forma de expressão verbal. Trata-se de uma matéria jornalística onde alguém (jornalista ou não) desenvolve uma idéia e apresenta sua opinião.
Para Martín Vivaldi, o artigo é um “escrito, de conteúdo amplo e variado, de forma diversa, na qual se interpreta, julga ou explica um fato ou uma idéia atual, de especial transcendência, segundo a conveniência do articulista“.
O artigo é um gênero jornalístico peculiar à imprensa. Sua expressão não ocorre no rádio e na televisão, pela natureza abstrata que possui. Nos veículos audiovisuais, o papel que cumpre a intelectualidade através dos artigos de jornal é suprido por intermédio de entrevista.

4. Resenha
O gênero jornalístico que se convencionou chamar de resenha corresponde a uma apreciação das obras-de-arte ou dos produtos culturais, com a finalidade de orientar a ação dos fruidores ou consumidores. Na verdade, o termo ainda não se generalizou no Brasil, persistindo o emprego das palavras crítica para significar as unidades jornalísticas que cumprem aquela função e crítico para designar quem as elabora.
A resenha configura-se como um gênero jornalístico destinado a orientar o público na escolha dos produtos culturais em circulação no mercado. Trata-se de uma atividade eminentemente utilitária.

5. Coluna
A coluna é a “seção especializada de jornal ou revista publicada com regularidade, geralmente assinada, e redigida em estilo mais livre e pessoal do que o noticiário comum. Compõe-se de notas, sueltos, crônicas, artigos ou textos-legendas, podendo adotar, lado a lado, várias dessas formas. As colunas mantêm um título ou cabeçalho constante, e são diagramadas geralmente numa posição fixa e sempre na mesma página o que facilita a sua localização imediata pelos leitores“.
As colunas são informações e opiniões curtas caracterizadas pela agilidade e abrangência. Procura trazer fatos, idéias e julgamentos em primeira mão. 

Fonte: www.arianefonseca.com