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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Caricaturas

CAU GOMEZ
3º Prêmio
Ronaldinho Gaúcho
Jornal A Tarde
BAHIA

PAULO CARUSO
Menção Honrosa
Estatúa da Liberdade
Diário de São Paulo
SÃO PAULO

BAPTISTÃO
1º Prêmio
Papa Bento XVI
Revista Veja
SÃO PAULO



Charges

Folha de São Paulo, 02 de dezembro de 2010


Folha de São Paulo, 01 de dezembro de 2010

Cotidiano:Vidas que se perdem com as balas

Sentado a beira da porta, observando a mata iluminada, contando as estrelas do céu, ele escuta, vindo da sala de casa, o som da vinheta de abertura do jornal regional. O apresentador chama a primeira notícia, fala da morte de uma criança por bala perdida, ocorrida no Bairro Nordeste de Amaralina, em Salvador. Não hesita e corre pra ver. Ao chegar em frente da tv, se emociona com a narração do acontecido feita pelo repórter.

Não poderia ser diferente. A vida de um menino de 10 anos se perdeu com uma bala, disparada, segundo moradores do local, por quem deveria realizar a segurança da sociedade, os policiais. Joel Santana era o nome dele. Por ironia do destino, mataram o garoto propaganda da Bahiatursa, empresa de turismo do governo do estado.

Em um comercial da instituição, Joel relatou qual era o seu desejo: "O meu mestre é meu pai. Ele ensina até gringo a cantar. Quando eu crescer, quero ser mestre de capoeira".
Sendo levado pelo próprio corpo, seu João acomoda-se na sua poltrona preferida e percebe a força que possui a realidade para destruir os sonhos. Mas, também reconhece que chega a ser impossível fugir dela.


Todos os dias seu João assiste, por meio do jornal, as diferentes interpretações que são dadas sobre essa realidade. De vez em quando rir, de vez em quando chora. Algumas vezes se anima, outras sente-se impotente. Ou vivencia todos estes sentimentos simultaneamente. O velho herói perdido no sertão nordestino ainda quer encontrar forças para sair em defesa do bem. Só lhe resta descobrir onde e como.


Choca-se com os dramas de famílias como a do Joel. Com a guerra urbana no Rio, que deixou entre outras vítimas uma garota de 14 anos. Ela estava em casa, em frente ao computador, quando foi atingida por uma bala perdida. Mais uma vida se perdeu com a bala. No telejornal, o depoimento da vizinha, que acompanhou a mãe durante o enterro da filha: "Moço, quando vai parar isso? Quando que um inocente vai parar de pagar por um culpado?"

João muda de canal. No seguinte, vê policiais dominando morros, traficantes debandando pelos matos, tanques de guerra nas ruas, fuzis e escopetas em circulação, gente correndo pra lá e pra cá. Não é filme de ação. A guerra urbana continua. Quando está história terá um final feliz? Desta vez quem pergunta é seu João.

Exemplo de Crônica: O sexto sentido

Por: Rubem Alves
Os cinco sentidos são, a um tempo, seres da “caixa de ferramentas” e seres da “caixa de brinquedos”. Como ferramentas os sentidos nos fazem conhecer o mundo. A cor vermelha no semáforo diz que é preciso parar o carro. O som da buzina chama a minha atenção para um carro que se aproxima. O cheiro estranho na cozinha me adverte de que o gás está aberto. Como brinquedos os cinco sentidos me informam que o mundo está cheio de beleza. Eles são órgãos sexuais: com eles fazemos amor com o mundo. Dão-nos prazer e alegria.

Os cinco sentidos, para realizarem suas funções de poder e prazer, exigem a presença do objeto a ser conhecido ou a ser amado. Para sentir a beleza de um ipê florido é preciso que haja ipês floridos – como agora. Em julho os ipês rosa, em agosto os ipês amarelos, em setembro os ipês brancos. Já até sugeri que um músico compusesse uma sinfonia em três movimentos dedicada aos ipês. Para se sentir a beleza triste do canto de um sabiá é preciso que haja um sabiá cantando. Para se sentir o perfume de um jasmim é preciso que haja um jasmim florido. Para se sentir o gosto bom de uma laranja é preciso que haja uma laranja. E para se sentir a delícia de um beijo é preciso que haja uma boca que me beije... Os cinco sentidos só fazem amor com coisas existentes, no presente. Eles vivem no “aqui” e no “agora”.

Mas há um sexto sentido dotado de propriedades mágicas, um sentido que nos permite fazer amor com coisas que não existem... Esse sentido se chama “pensamento”.

Digo que o pensamento é um sentido mágico porque ele tem o poder de chamar à existência coisas que não existem e de tratar e as coisas que existem como se não existissem. E é dele que surge a grandeza dos seres humanos. O pensamento nos dá asas, ele nos transforma em pássaros!
“Mas que realidade têm as coisas que não existem?”, poderão perguntar os filósofos. Aí serão os poetas que darão respostas aos filósofos. “Que seria de nós sem o socorro das coisas que não existem?” , perguntava Paul Valery. E Manoel da Barros acrescentaria: “As coisas que não existem são mais bonitas...” Leonardo da Vinci pensava e desenhava máquinas que não existiam e que só poderiam existir num futuro distante. Mas que alegria aquelas entidades não existentes lhe davam! Por isso ele as guardava como segredos perigosos que, se conhecidos, poderiam levá-lo à Inquisição. Mas o prazer valia o risco.

Beethoven estava completamente surdo. No seu mundo os sons não existiam. Mas do silêncio dos sons que não existiam ele fez surgir, no seu pensamento, a Nona Sinfonia, que canta a alegria da vida.

Faz uns meses resolvi reler o Cem anos de solidão, do Gabriel Garcia Marques. Que amontoado de não-existentes! Invencionices de alguém que trata o existente como se não existisse. Pensei, de brincadeira, que ele deveria estar bêbado quando escreveu o livro, tantos são os absurdos maravilhosos que ele constrói. Uns tolos disseram que aquele livro era uma parábola sobre a América Latina. Ou seja, disseram que o livro falava sobre uma coisa que existia: o realismo fantástico de Gabriel Garcia Marques, depois de passar pelo crivo da hermenêutica, nada mais seria que uma crônica histórica disfarçada. Nada mais longe da verdade. O livro Cem anos de solidão só existe no espaço imaginário do que não existe.E apesar de saber que aquilo que estava escrito era mentira, que nunca acontecera porque era impossível que acontecesse, eu ri, sofri, vivi. Meu corpo fez amor com o inexistente. O que não existe nos faz viver. Não vivemos só de pão. Somos comedores de palavras. E as palavras operam em nós estranhas transformações. Quantas pessoas eu degolei com minha espada de samurai ao ler o Sho-gun!

Que extraordinário exercício de alienação é a literatura! Mergulhados num livro a realidade que nos cerca deixa de existir. Estamos inteiramene no mundo do pensamento. Se Marx estava certo ao afirmar que “o homem é o mundo do homem” então, na literatura, tornamo-nos criaturas dos muitos mundos da fantasia. Tornamo-nos personagens de uma estória inventada, “atores” de teatro. “Não é incrível que um ator, por uma simples ficção, um sonho apaixonado, amolde tanto sua alma à imaginação, que todo se lhe transfigure o semblante, por completo o rosto lhe empalideça, lágrimas vertam dos seus olho, suas palavras tremam e, inteiro seu organismo se acomode à essa mera ficção? ( Shakespeare, Hamlet, ato 2º., cena II). Os atores são seres alienados da realidade por estarem vivendo totalmente no mundo da ficção. É nisso que se encontra “a virtude paradoxal da leitura, que consiste em fazer-nos abstrair do mundo para lhe encontrarmos um sentido.” ( Daniel Pennac, Como um romance, ASA, Portugal, p. 17 ). Todo artista é um fingidor. Todo leitor tem de ser um fingidor. Fingir, brincar de fazer de contas, tratar as coisas que são como se não fossem e as coisas que não são como se fossem! É dessa loucura que surgem as mais belas criações da arte e da ciência. Por isso eu me daria por feliz se a educação fizesse apenas isso: introduzir os alunos no mundo mágico do pensamento tal como ele acontece na literatura.. Quem experimentou a magia do pensamento uma única vez não se esquece jamais...

Crônica


A crónica difere da notícia, e da reportagem porque, embora utilizando o jornal ou a revista como meio de comunicação, não tem por finalidade principal informar o destinatário, mas reflectir sobre o acontecido. Desta finalidade resulta que, neste tipo de texto, podemos ler a visão subjectiva do cronista sobre o universo narrado. Assim, o foco narrativo situa-se invariavelmente na 1ª pessoa.

Poeta do quotidiano, como alguém chamou ao cronista dos nossos dias, apresenta um discurso que se move entre a reportagem e a literatura, entre o oral e o literário, entre a narração impessoal dos acontecimentos e a força da imaginação. Diálogo e monólogo; diálogo com o leitor, monólogo com o sujeito da enunciação. A subjectividade percorre todo o discurso.

A crónica não morre depressa, como acontece com a notícia, mas morre, e aqui se afasta irremediavelmente do texto literário, embora se vista, por vezes, das suas roupagens, como a metáfora, a ambiguidade, a antítese, a conotação, etc.
A sua estrutura assemelha-se à de um conto, apresentando uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão.

Fonte: www.prof2000.pt/users/jmatafer/.../cronica.htm

Editorial :A censura ao humor e o Photoshop da vida real




Ruth de Aquino (Revista Época)

Se os humoristas chamassem José Serra de “Zé” e o infiltrassem com aquele sorriso congelado no meio de uma favela cenográfica e tosca, seriam acusados de ridicularizar o tucano. Mas, como a cena insólita aconteceu no programa do PSDB, ninguém processou o marqueteiro. Se o CQC e o Casseta & planeta exibissem o cão de José Dirceu como melhor amigo de Dilma Rousseff, poderiam ser multados por tentar associá-la ao ex-chefe do mensalão, como se a petista fosse herdeira não só do labrador Nego, mas de um período sinistro do PT. 
                                                                                                     
Após a estreia dos programas eleitorais, entre eles a abertura do “Discovery Marina Channel”, com a candidata verde estrelando uma peça futurista de efeitos especiais, finalmente deu para entender por que o humor político e sério foi amordaçado nesta eleição. Porque colocaria o dedo na ferida. Os programas dos candidatos são tão fictícios que a realidade sumiu. Tudo ficou de repente bom, reconfortante, para quem acredita nos seriados e nas novelas. 

“O Brasil é um país exótico mesmo. Os políticos fazem humor e os humoristas fazem passeata”, diz Marcelo Tas, do CQC, um dos atingidos por esse entulho da ditadura do Tribunal Superior Eleitoral – que interpreta a sátira política como ameaça à democracia. “Olha só”, afirma Tas com ironia, “estamos esperneando, mas nosso plano é absolutamente estúpido: uma passeata de protesto neste domingo em Copacabana!” 

Tas, Marcelo Madureira e Helio de la Peña foram procurados pela CNN e pela BBC de Londres. “Os cidadãos dessas democracias têm muita dificuldade de entender”, diz Tas. “Um político que tem medo do ridículo não pode ser candidato a presidente. O humor humaniza o candidato, o aproxima do eleitor. Nós apostamos no erro, na casca de banana, no nariz torto. Quando se tira o erro, apaga-se o humano. Nossos candidatos se escondem deles mesmos.” Políticos como Barack Obama e Nicolas Sarkozy muitas vezes se beneficiaram das caricaturas inteligentes e ácidas dos humoristas – volta e meia, subiam nas pesquisas logo após a transmissão dos programas. 

Após a estreia do ridículo horário eleitoral, deu para entender por que o humor político foi amordaçado.

Assistimos à campanha mais “photoshopada” e engessada da história brasileira. Tudo tem de ficar bonito, sorridente, raso, sem erro. O país está anestesiado, entorpecido. Não é só o humor que está em xeque, sob censura. Quem faz o papel de palhaço somos nós, os eleitores.

A rigidez dos cronômetros e a ditadura dos marqueteiros transformam esta eleição numa das mais chatas, melosas e apelativas de todos os tempos. Serra, aliás Zé, toca comovido as pessoas, acaricia uma mulher que chora e mostra fotos suas ao lado de Lula. Dilma, a criatura, desfila de roupa de ginástica, lembra os anos do cárcere, mas não a luta armada, conta que um dia rasgou dinheiro para dar esmola a um menino e enaltece a maternidade. Marina diz uma verdade: querem infantilizar os brasileiros com essa história de pai e mãe. Somos vítimas de uma grande pegadinha, do Oiapoque ao Chuí.

Fora da tela, a vida real teima em existir. Algumas imagens de nosso abismo social estão na série do jornal O Globo “Como vive o brasileiro”. Trinta e sete milhões de brasileiros, toda semana, ficam sem dinheiro da passagem para voltar para casa após o trabalho e são obrigados a buscar abrigo nas ruas. Dormem até na calçada de hospitais. O déficit de habitação no país é de 5,8 milhões de lares. Quando a moradia é de zinco, tábuas velhas e pedaços de papelão, se sentem privilegiados. Comunidades vivem sobre lixões, correndo risco de morrer. Mais da metade das cidades não dá destino adequado ao lixo. Sete milhões de domicílios não têm sequer coleta de lixo. Quase metade das casas no Brasil não tem coleta de esgoto. Treze milhões de brasileiros vivem sem banheiro e convivem com ratos em casa e bichos mortos nos canais. Analfabetos funcionais chegam a 30% da população. Jovens não conseguem emprego. 
Não se esqueça, o horário só é gratuito para os candidatos – você, contribuinte, é quem paga. Pode exigir, em contrapartida, um pouco mais de compromisso com a realidade. E que deixem o humor para quem sabe fazer. 

Jornalismo Opinativo


Desde o momento em que a imprensa deixou de ser empreendimento individual e se tornou instituição, assumindo o caráter de organização complexa, que conta com equipes de assalariados e colaboradores, a expressão da opinião fragmentou-se seguindo tendências diversas e até mesmo conflitantes.
Por mais que a instituição jornalística tenha uma orientação definida (posição ideológica ou linha política), em torno da qual pretende que as suas mensagens sejam estruturadas, subsiste sempre uma diferenciação opinativa (no sentido de atribuição de valor aos acontecimentos).
Isso é uma decorrência do processo de produção industrial, pois a realidade captada e relatada condiciona-se à perspectiva de observação dos diferentes núcleos emissores (empresa, jornalista, colaborador e leitor).
Nas aulas de Português, ano passado, fizemos um trabalho sobre os gêneros jornalísticos  opinativos, com base no livro ‘Jornalismo Opinativo’, do professor José Marques de Melo  (MELO, José Marques de; Jornalismo Opinativo – Gêneros Opinativos no Jornalismo Brasileiro; 3ª edição; Editora Mantiqueira; 2003). Segue abaixo um resumo da função de alguns deles:

1. Editorial
O Editorial é o gênero jornalístico que expressa a opinião oficial da empresa diante dos fatos de maior repercussão no momento. Popularmente, se diz que ele contém a opinião do dono da instituição jornalística. Isso acontece nas organizações de porte médio ou pequenas empresas, onde o controle financeiro fica nas mãos de um proprietário ou de sua família. Nas grandes instituições, o editorial reflete não exatamente a opinião dos seus proprietários nominais, mas o consenso das opiniões que emanam dos diferentes núcleos que participam da propriedade da organização.
Os atributos específicos do editorial, de acordo com o livro, são: impessoalidade (não se trata de matéria assinada, utilizando portanto a terceira pessoa do singular ou do plural); topicalidade (trata de um tema específico, dentro de limites precisos); condensalidade (breve e claro, poucas idéias, dando maior ênfase às afirmações); plasticidade (flexibilidade, apreende os fatos nos seus desdobramentos).

2. Comentário
O comentário é um gênero recentemente introduzido no Brasil. Surgiu como tentativa de quebrar o monopólio opinativo do editorial. Informado rapidamente e resumidamente dos fatos que estão acontecendo, o cidadão sente-se desejoso de saber um pouco mais e quer orientar-se sobre o desenrolar das ocorrências.
Trata-se de um gênero que mantém vinculação estreita com a atualidade, sendo produzido em cima dos fatos que estão ocorrendo. Vem junto com a própria notícia. Foi no rádio que o comentário encontrou sua maior expressão no jornalismo contemporâneo.
3. Artigo
A palavra artigo possui duas significações. O senso comum atribui-lhe o sentido de matéria publicada em jornal ou revista, não importando a natureza. As instituições jornalísticas, entretanto, identificam o artigo como um gênero específico, uma forma de expressão verbal. Trata-se de uma matéria jornalística onde alguém (jornalista ou não) desenvolve uma idéia e apresenta sua opinião.
Para Martín Vivaldi, o artigo é um “escrito, de conteúdo amplo e variado, de forma diversa, na qual se interpreta, julga ou explica um fato ou uma idéia atual, de especial transcendência, segundo a conveniência do articulista“.
O artigo é um gênero jornalístico peculiar à imprensa. Sua expressão não ocorre no rádio e na televisão, pela natureza abstrata que possui. Nos veículos audiovisuais, o papel que cumpre a intelectualidade através dos artigos de jornal é suprido por intermédio de entrevista.

4. Resenha
O gênero jornalístico que se convencionou chamar de resenha corresponde a uma apreciação das obras-de-arte ou dos produtos culturais, com a finalidade de orientar a ação dos fruidores ou consumidores. Na verdade, o termo ainda não se generalizou no Brasil, persistindo o emprego das palavras crítica para significar as unidades jornalísticas que cumprem aquela função e crítico para designar quem as elabora.
A resenha configura-se como um gênero jornalístico destinado a orientar o público na escolha dos produtos culturais em circulação no mercado. Trata-se de uma atividade eminentemente utilitária.

5. Coluna
A coluna é a “seção especializada de jornal ou revista publicada com regularidade, geralmente assinada, e redigida em estilo mais livre e pessoal do que o noticiário comum. Compõe-se de notas, sueltos, crônicas, artigos ou textos-legendas, podendo adotar, lado a lado, várias dessas formas. As colunas mantêm um título ou cabeçalho constante, e são diagramadas geralmente numa posição fixa e sempre na mesma página o que facilita a sua localização imediata pelos leitores“.
As colunas são informações e opiniões curtas caracterizadas pela agilidade e abrangência. Procura trazer fatos, idéias e julgamentos em primeira mão. 

Fonte: www.arianefonseca.com

sábado, 16 de outubro de 2010

Uma definição para a entrevista

Garoto de 11 anos entrevistando ao presidente americano, Barack Obama
 
De acordo com Patrícia Ceolin do Nascimento (2009, p.97), "a entrevista, além de ser parte do trabalho do repórter nas notícias e reportagens, pode, ainda, constituir-se como texto 'autônomo' de caráter noticioso.(...) Pode assumir duas formas de apresentação: a entrevista corrida ou a entrevista pingue-pongue.
 
Na entrevista em texto corrido, o repórter apresenta as falas do entrevistado, intercalando discurso direto e discurso indireto. O texto, geralmente, inicia pelas declarações mais relevantes, mas a carga de subjetividade por parte do jornalista (que apresenta as falas) costuma ser mais expressiva (pode aproximar-se, assim, do perfil ou, ainda, servir-lhe de base).
 
Na entrevista pingue-pongue, por outro lado, aparecem, como o nome sugere, perguntas e respostas sequencialmente, mas isso não significa que dispensem organização jornalística quanto à hierarquia das informações."
 
Texto retirado do Blog: lucianecandidocarvalho.blogspot.com

TV de todos os gêneros: A entrevista do casal Nardoni

O Comum de todos os gêneros publica agora uma entrevista veiculada pelo Fantástico com o casal Nardoni, responsáveis pelo assassinato da menina Isabela, ocorrido em 2008.








Endereço de origem do vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=ZTH6u-gnq2g&feature=related

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Mais um exemplo de entrevista

 
 
 
A Banda Lordão, que tem o itambeense Sinho Ferrari como vocalista,  é uma das atrações do São João 2010 de Itambé. Para falar sobre a expectativa da Banda para os festejos juninos, bem como sobre os seus projetos pessoais e profissionais, Sinho Ferrari concedeu uma entrevista ao Itambé Agora.

Sinho nasceu em 22 de outubro de 1984 em Itambé, onde na Rua Alfredo Pires viveu a maior parte da sua infância. Ele descobriu o gosto pela música durante as apresentações que fazia numa Igreja Evangelica em que frequentava.


Alguns acreditavam no talento do rapaz, outros duvidavam. Entre os incentivadores estava a figura da cantora da Banda Shock da Bahia, Flaveny Gomes,  considerada por Sinho uma grande e verdadeira amiga. Entre aqueles que não davam créditos ao rapaz estavam alguns donos de bandas da cidade.

Mas nada nem ninguém fez Sinho desistir. Deixou Itambé ainda na adolescência para ir em busca da realização dos seus sonhos. "Quando sair de Itambé eu tinha pouco mais de 17 anos, foi um momento bastante difícil. Chorei muito". 

Enfim as portas se abriram para o cantor itambeense, que vem aproveitando com garra cada oportunidade surgida. Trabalhou na Banda Tribus, Banda Shock da Bahia, Mac Sollo, Xamego da Bahia, Banda Top Love e recentemente, após o trágico falecimento de Kóco Jr., assumiu o vocal da Banda Lordão, que se apresentará no dia 26 de junho no São João de Itambé.

Confira a entrevista.


(Itambé Agora ) Qual a sua expectativa para o São João de Itambé?

(Sinho Ferrari) - As melhores possivéis, afinal de contas não é todo dia que faço uma festa na minha cidade natal. Estou bastante feliz por isso, de estar voltando a Itambé, cidade que amo muito.

(Itambé Agora) O que de novidade a Banda Lordão estará trazendo para o público que prestigia ao São João itambeense?

(Sinho Ferrari) - Várias mudanças surgiram. Muitas, inclusive, por conta da minha entrada na Banda .
Estamos preparando um repertório muito bom, com as músicas da Banda que fizeram sucesso no passado, e com as músicas do nosso novo CD.


(Itambé Agora) Mais uma vez você estará se apresentando em Itambé. Como é pra você cantar em sua terra natal?

(Sinho Ferrari) - O nervosismo será o mesmo, porém a responsabilidade é maior. Haverá uma cobrança por parte dos parceiros e fãs da Banda para que eu possa fazer uma boa apresentação. E farei. Será um show com muito astral, especialmente preparado para os meus amigos e fãs. Só não sei de uma coisa, se conseguirei segurar as lágrimas por está de volta a terra em que nasci, sofri, chorei, sorri, cantei e venci.



(Itambé Agora) Copa do Mundo e São João. Qual a relação que se pode estabelecer entre esses dois eventos?

(Sinho Ferrari) - Festa, alegria. Copa e São João é isso.



(Itambé Agora) Como será o São João da Banda Lordão?

(Sinho Ferrari) - O São João da Banda Lordão será muito corrido. Um show atrás do outro. No dia 26, por exemplo, estaremos no Tico-Mia, Vaca Loca, e em Itambé. Mas é claro que vou guardar todas as minhas energias para Itambé (risos). Serão 26 shows em 30 dias.


(Itambé Agora) O que o público pode esperar da Banda Lordão no São João de Itambé?

(Sinho Ferrari) - Muita energia. Muito forró. Músicas da minha autoria e que,  marcaram minha passagem pela Banda Top Love. E também os sucessos do novo CD da Banda Lordão.


(Itambé Agora) É verdade que você estará participando do programa Ídolos da Record?

(Sinho Ferrari) - Participei de 3 audições em São Paulo para o Programa. Mas infelizmente, devido a agenda de shows da Banda Lordão eu não pude ir na última audição, realizada no dia 24 de abril. Confio em Deus! Ele sabe todas as coisas!
Ano que vem vou preparar melhor a agenda e se tudo dê certo participar do programa,  e quem sabe não me tornar o Novo Ídolo do Brasil (risos)


(Itambé Agora) Por que você deixou a Banda Top Love?

(Sinho Ferrari) - A Banda Top Love foi um presente para mim. Hoje sou reconhecido pelo interior da Bahia e em outros estados graças a Banda. Eu gosto de ser livre. Infelizmente na Top Love perdi minha liberdade. Pediram para que eu evitasse sair as ruas e até de falar com as pessoas, isso me incômodava muito.


(Itambé Agora) Você ainda tem alguma meta a atingir?

(Sinho Ferrari) - Muitas. Algumas delas já estou  realizando. Como por exemplo, a gravação do meu  CD solo, que deve sair em agosto. Deixo claro que apesar do CD solo, ainda não sairei da Banda Lordão. Na vida pessoal,  estarei comprando um apartamento para minha avó, que deverá vir morar comigo.

(Itambé Agora) Quais as lembranças que você guarda de Itambé?

 (Sinho Ferrari) - Com certeza a minha liberdade de poder ir a qualquer lugar com meus amigos.E também a minha fase de estudos no Centro Educacional Gilberto Viana, que sinto tanta falta.
 
Fonte: www.itambeagora.com

Exemplo de Entrevista

Lula fala ao iG sobre seus planos para depois da Presidência

Eduardo Oinegue, Luciano Suassuna e Tales Faria | 17/09/2010 11:02



"E depois de algum tempo, a gente, então, cai a ficha. Você está fora, já não tem mais o Franklin, não tem mais o Giberto Carvalho que eu xingava, não tem mais ninguém. Não tem mais o Stuckinha para eu berrar com ele. Aí eu vou querer uma fotografia, não tem, vou ter que ir lá numa dessas, como chama? Ótica, tirar uma daquelas de trinta segundos.

Então, quando essa ficha cair aí eu estou preparado para tocar a vida. Eu não quero nem tomar decisão antes de alguns meses, porque eu não quero tomar decisão errada. Então eu tenho que maturar, calejar, para depois tomar decisão.

Quando eu deixar a Presidência da República, eu quero ser chamado de companheiro Lula. Eles que me chamaram de companheiro Lula, antes de eu ser presidente da República. Essa para mim é a maior conquista que eu vou ter na minha vida. E eu tenho a convicção que eu vou ser tratado com carinho na porta da Volkswagen como era tratado nas greves de 80. Eu tenho a convicção que eu vou ser tratado num congresso da Contag como eu era tratado quando eu era oposição. Essa coisa está no sangue. Eu sei meu lado. Sei da minha obrigação como presidente que eu tenho que governar para todos. Eu tenho que tratar o mais rico igual eu trato o outro.

Todo mundo tem direito de cidadania. Agora, eu tenho que governar tentando favorecer os mais pobres. Mas quando eu deixar a Presidência eu sei para onde eu vou. Sei quem são meus companheiros, sei quem vai lembrar de mim. Sei quem vai lembrar quando eu fizer aniversário. Eu não me iludo. Eu não me iludo. A política para mim foi uma lição de vida. Não é por orgulho não, isso aqui é um comportamento. Apenas uma linha de comportamento. Eu vou deixar o meu mandato sem nunca ter precisado almoçar ou jantar com rádio, televisão ou jornal. Coisa que era habitual nesse país.

A turma aqui dizia 'Põe o presidente para almoçar com o dono da televisão. Agora o presidente vai almoçar com os donos dos jornais'. Desse mal eu não sofrerei. Eu tenho que me preparar psicologicamente para isso. Não é fácil eu ter a vida que eu tenho e no dia 2 de janeiro do ano que vem eu levantar no meu apartamento, não ter mais os meus filhos porque todos dormem fora. Eu e Marisa. Não ter o César para eu chamar ele e xingar por causa da agenda. Não tem mais o Stuckinha para eu berrar com ele. Não ter o Gilberto Carvalho para me xingar por alguma coisa.

Não ter esses meninos para me dar o briefing de manhã aqui, o que a imprensa está falando o que é que você tem que falar amanhã, como é que a imprensa tá se comportando. Eu não olhar para a cara da Marisa, ela não olhar para a minha cara. Eu estou me preparando para isso."

iG - O senhor quer uma viagem? 

"Mas eu quero ficar um tempo sem viajar"

iG - Do que o senhor vai sentir mais saudade? É da agitação? O Fernando Henrique tinha falado que ia sentir saudade da piscina do Alvorada.

"Ele disse que ia sentir saudade da piscina e do helicóptero. Eu não vou sentir saudade de nenhum dos dois. Eu acho que eu vou sentir saudade da agitação do cargo. Eu lembro de quando eu fui preso e voltei para o sindicato, eu tava cassado. Eu levantava de manhã e ficava igual uma barata tonta. Eu não tinha para onde ir.
Eu virei para o meu lado e disse uma coisa que é uma coisa verdadeira. Ex-presidente é que nem vaso chinês. Quando você está no Palácio, você tem muito lugar para colocar o vaso chinês. Mas quando você sai, você estar num apartamentozinho você não tem onde colocar o vaso chinês. O que você faz com o vaso chinês? Um ex-presidente é sempre um vaso chinês. O que você precisa tomar cuidado é para não atrapalhar os outros, ou seja, tem que deixar espaço para os outros.

É por isso que eu não quero tomar nenhuma decisão precipitada. Eu quero primeiro saber aonde é que vai doer. Eu quero voltar a ver jogo do Corinthians no Pacaembu, de preferência junto com a Gaviões ali, com a camisa do Corinthians. Sabe, então eu quero voltar a ser um cidadão normal."


O homem que inovou a prática da reportagem: João do Rio


O homem de cabeça de papelão
João do Rio


No País que chamavam de Sol, apesar de chover, às vezes, semanas inteiras, vivia um homem de nome Antenor. Não era príncipe. Nem deputado. Nem rico. Nem jornalista. Absolutamente sem importância social.

O País do Sol, como em geral todos os países lendários, era o mais comum, o menos surpreendente em idéias e práticas. Os habitantes afluíam todos para a capital, composta de praças, ruas, jardins e avenidas, e tomavam todos os lugares e todas as possibilidades da vida dos que, por desventura, eram da capital. De modo que estes eram mendigos e parasitas, únicos meios de vida sem concorrência, isso mesmo com muitas restrições quanto ao parasitismo. Os prédios da capital, no centro elevavam aos ares alguns andares e a fortuna dos proprietários, nos subúrbios não passavam de um andar sem que por isso não enriquecessem os proprietários também. Havia milhares de automóveis à disparada pelas artérias matando gente para matar o tempo, cabarets fatigados, jornais, tramways, partidos nacionalistas, ausência de conservadores, a Bolsa, o Governo, a Moda, e um aborrecimento integral. Enfim tudo quanto a cidade de fantasia pode almejar para ser igual a uma grande cidade com pretensões da América. E o povo que a habitava julgava-se, além de inteligente, possuidor de imenso bom senso. Bom senso! Se não fosse a capital do País do Sol, a cidade seria a capital do Bom Senso!

Precisamente por isso, Antenor, apesar de não ter importância alguma, era exceção mal vista. Esse rapaz, filho de boa família (tão boa que até tinha sentimentos), agira sempre em desacordo com a norma dos seus concidadãos.

Desde menino, a sua respeitável progenitora descobriu-lhe um defeito horrível: Antenor só dizia a verdade. Não a sua verdade, a verdade útil, mas a verdade verdadeira. Alarmada, a digna senhora pensou em tomar providências. Foi-lhe impossível. Antenor era diverso no modo de comer, na maneira de vestir, no jeito de andar, na expressão com que se dirigia aos outros. Enquanto usara calções, os amigos da família consideravam-no um enfant terrible, porque no País do Sol todos falavam francês com convicção, mesmo falando mal. Rapaz, entretanto, Antenor tornou-se alarmante. Entre outras coisas, Antenor pensava livremente por conta própria. Assim, a família via chegar Antenor como a própria revolução; os mestres indignavam-se porque ele aprendia ao contrario do que ensinavam; os amigos odiavam-no; os transeuntes, vendo-o passar, sorriam.

Uma só coisa descobriu a mãe de Antenor para não ser forçada a mandá-lo embora: Antenor nada do que fazia, fazia por mal. Ao contrário. Era escandalosamente, incompreensivelmente bom. Aliás, só para ela, para os olhos maternos. Porque quando Antenor resolveu arranjar trabalho para os mendigos e corria a bengala os parasitas na rua, ficou provado que Antenor era apenas doido furioso. Não só para as vítimas da sua bondade como para a esclarecida inteligência dos delegados de polícia a quem teve de explicar a sua caridade.

Com o fim de convencer Antenor de que devia seguir os tramitas legais de um jovem solar, isto é: ser bacharel e depois empregado público nacionalista, deixando à atividade da canalha estrangeira o resto, os interesses congregados da família em nome dos princípios organizaram vários meetings como aqueles que se fazem na inexistente democracia americana para provar que a chave abre portas e a faca serve para cortar o que é nosso para nós e o que é dos outros também para nós. Antenor, diante da evidência, negou-se.

— Ouça! bradava o tio. Bacharel é o princípio de tudo. Não estude. Pouco importa! Mas seja bacharel! Bacharel você tem tudo nas mãos. Ao lado de um político-chefe, sabendo lisonjear, é a ascensão: deputado, ministro.

— Mas não quero ser nada disso.

— Então quer ser vagabundo?

— Quero trabalhar.

— Vem dar na mesma coisa. Vagabundo é um sujeito a quem faltam três coisas: dinheiro, prestígio e posição. Desde que você não as tem, mesmo trabalhando — é vagabundo.

— Eu não acho.

— É pior. É um tipo sem bom senso. É bolchevique. Depois, trabalhar para os outros é uma ilusão. Você está inteiramente doido.

Antenor foi trabalhar, entretanto. E teve uma grande dificuldade para trabalhar. Pode-se dizer que a originalidade da sua vida era trabalhar para trabalhar. Acedendo ao pedido da respeitável senhora que era mãe de Antenor, Antenor passeou a sua má cabeça por várias casas de comércio, várias empresas industriais. Ao cabo de um ano, dois meses, estava na rua. Por que mandavam embora Antenor? Ele não tinha exigências, era honesto como a água, trabalhador, sincero, verdadeiro, cheio de idéias. Até alegre — qualidade raríssima no país onde o sol, a cerveja e a inveja faziam batalhões de biliosos tristes. Mas companheiros e patrões prevenidos, se a princípio declinavam hostilidades, dentro em pouco não o aturavam. Quando um companheiro não atura o outro, intriga-o. Quando um patrão não atura o empregado, despede-o. É a norma do País do Sol. Com Antenor depois de despedido, companheiros e patrões ainda por cima tomavam-lhe birra. Por que? É tão difícil saber a verdadeira razão por que um homem não suporta outro homem!

Um dos seus ex-companheiros explicou certa vez:

— É doido. Tem a mania de fazer mais que os outros. Estraga a norma do serviço e acaba não sendo tolerado. Mau companheiro. E depois com ares...

O patrão do último estabelecimento de que saíra o rapaz respondeu à mãe de Antenor:

— A perigosa mania de seu filho é por em prática idéias que julga próprias.

— Prejudicou-lhe, Sr. Praxedes?

Não. Mas podia prejudicar. Sempre altera o bom senso. Depois, mesmo que seu filho fosse águia, quem manda na minha casa sou eu.

No País do Sol o comércio ë uma maçonaria. Antenor, com fama de perigoso, insuportável, desobediente, não pôde em breve obter emprego algum. Os patrões que mais tinham lucrado com as suas idéias eram os que mais falavam. Os companheiros que mais o haviam aproveitado tinham-lhe raiva. E se Antenor sentia a triste experiência do erro econômico no trabalho sem a norma, a praxe, no convívio social compreendia o desastre da verdade. Não o toleravam. Era-lhe impossível ter amigos, por muito tempo, porque esses só o eram enquanto. não o tinham explorado.

Antenor ria. Antenor tinha saúde. Todas aquelas desditas eram para ele brincadeira. Estava convencido de estar com a razão, de vencer. Mas, a razão sua, sem interesse chocava-se à razão dos outros ou com interesses ou presa à sugestão dos alheios. Ele via os erros, as hipocrisias, as vaidades, e dizia o que via. Ele ia fazer o bem, mas mostrava o que ia fazer. Como tolerar tal miserável? Antenor tentou tudo, juvenilmente, na cidade. A digníssima sua progenitora desculpava-o ainda.

— É doido, mas bom.

Os parentes, porém, não o cumprimentavam mais. Antenor exercera o comércio, a indústria, o professorado, o proletariado. Ensinara geografia num colégio, de onde foi expulso pelo diretor; estivera numa fábrica de tecidos, forçado a retirar-se pelos operários e pelos patrões; oscilara entre revisor de jornal e condutor de bonde. Em todas as profissões vira os círculos estreitos das classes, a defesa hostil dos outros homens, o ódio com que o repeliam, porque ele pensava, sentia, dizia outra coisa diversa.

— Mas, Deus, eu sou honesto, bom, inteligente, incapaz de fazer mal...

— É da tua má cabeça, meu filho.

— Qual?

— A tua cabeça não regula.

— Quem sabe?

Antenor começava a pensar na sua má cabeça, quando o seu coração apaixonou-se. Era uma rapariga chamada Maria Antônia, filha da nova lavadeira de sua mãe. Antenor achava perfeitamente justo casar com a Maria Antônia. Todos viram nisso mais uma prova do desarranjo cerebral de Antenor. Apenas, com pasmo geral, a resposta de Maria Antônia foi condicional.

— Só caso se o senhor tomar juízo.

— Mas que chama você juízo?

— Ser como os mais.

— Então você gosta de mim?

— E por isso é que só caso depois.

Como tomar juízo? Como regular a cabeça? O amor leva aos maiores desatinos. Antenor pensava em arranjar a má cabeça, estava convencido.

Nessas disposições, Antenor caminhava por uma rua no centro da cidade, quando os seus olhos descobriram a tabuleta de uma "relojoaria e outros maquinismos delicados de precisão". Achou graça e entrou. Um cavalheiro grave veio servi-lo.

— Traz algum relógio?

— Trago a minha cabeça.

— Ah! Desarranjada?

— Dizem-no, pelo menos.

— Em todo o caso, há tempo?

— Desde que nasci.

— Talvez imprevisão na montagem das peças. Não lhe posso dizer nada sem observação de trinta dias e a desmontagem geral. As cabeças como os relógios para regular bem...

Antenor atalhou:

— E o senhor fica com a minha cabeça?

— Se a deixar.

— Pois aqui a tem. Conserte-a. O diabo é que eu não posso andar sem cabeça...

— Claro. Mas, enquanto a arranjo, empresto-lhe uma de papelão.

— Regula?

— É de papelão! explicou o honesto negociante. Antenor recebeu o número de sua cabeça, enfiou a de papelão, e saiu para a rua.

Dois meses depois, Antenor tinha uma porção de amigos, jogava o pôquer com o Ministro da Agricultura, ganhava uma pequena fortuna vendendo feijão bichado para os exércitos aliados. A respeitável mãe de Antenor via-o mentir, fazer mal, trapacear e ostentar tudo o que não era. Os parentes, porem, estimavam-no, e os companheiros tinham garbo em recordar o tempo em que Antenor era maluco.

Antenor não pensava. Antenor agia como os outros. Queria ganhar. Explorava, adulava, falsificava. Maria Antônia tremia de contentamento vendo Antenor com juízo. Mas Antenor, logicamente, desprezou-a propondo um concubinato que o não desmoralizasse a ele. Outras Marias ricas, de posição, eram de opinião da primeira Maria. Ele só tinha de escolher. No centro operário, a sua fama crescia, querido dos patrões burgueses e dos operários irmãos dos spartakistas da Alemanha. Foi eleito deputado por todos, e, especialmente, pelo presidente da República — a quem atacou logo, pois para a futura eleição o presidente seria outro. A sua ascensão só podia ser comparada à dos balões. Antenor esquecia o passado, amava a sua terra. Era o modelo da felicidade. Regulava admiravelmente.

Passaram-se assim anos. Todos os chefes políticos do País do Sol estavam na dificuldade de concordar no nome do novo senador, que fosse o expoente da norma, do bom senso. O nome de Antenor era cotado. Então Antenor passeava de automóvel pelas ruas centrais, para tomar pulso à opinião, quando os seus olhos deram na tabuleta do relojoeiro e lhe veio a memória.

— Bolas! E eu que esqueci! A minha cabeça está ali há tempo... Que acharia o relojoeiro? É capaz de tê-la vendido para o interior. Não posso ficar toda vida com uma cabeça de papelão!

Saltou. Entrou na casa do negociante. Era o mesmo que o servira.

— Há tempos deixei aqui uma cabeça.

— Não precisa dizer mais. Espero-o ansioso e admirado da sua ausência, desde que ia desmontar a sua cabeça.

— Ah! fez Antenor.

— Tem-se dado bem com a de papelão? — Assim...

— As cabeças de papelão não são más de todo. Fabricações por séries. Vendem-se muito.

— Mas a minha cabeça?

— Vou buscá-la.

Foi ao interior e trouxe um embrulho com respeitoso cuidado.

— Consertou-a?

— Não.

— Então, desarranjo grande?

O homem recuou.

— Senhor, na minha longa vida profissional jamais encontrei um aparelho igual, como perfeição, como acabamento, como precisão. Nenhuma cabeça regulará no mundo melhor do que a sua. É a placa sensível do tempo, das idéias, é o equilíbrio de todas as vibrações. O senhor não tem uma cabeça qualquer. Tem uma cabeça de exposição, uma cabeça de gênio, hors-concours.

Antenor ia entregar a cabeça de papelão. Mas conteve-se.

— Faça o obséquio de embrulhá-la.

— Não a coloca?

— Não.

— V.EX. faz bem. Quem possui uma cabeça assim não a usa todos os dias. Fatalmente dá na vista.

Mas Antenor era prudente, respeitador da harmonia social.

— Diga-me cá. Mesmo parada em casa, sem corda, numa redoma, talvez prejudique.

— Qual! V.EX. terá a primeira cabeça.

Antenor ficou seco.

— Pode ser que V., profissionalmente, tenha razão. Mas, para mim, a verdade é a dos outros, que sempre a julgaram desarranjada e não regulando bem. Cabeças e relógios querem-se conforme o clima e a moral de cada terra. Fique V. com ela. Eu continuo com a de papelão.

E, em vez de viver no País do Sol um rapaz chamado Antenor, que não conseguia ser nada tendo a cabeça mais admirável — um dos elementos mais ilustres do País do Sol foi Antenor, que conseguiu tudo com uma cabeça de papelão.

João do Rio foi o pseudônimo mais constante de João Paulo Emílio Coelho Barreto, escritor e jornalista carioca, que também usou como disfarce os nomes de Godofredo de Alencar, José Antônio José, Joe, Claude, etc., nada ou quase nada escrevendo e publicando sob o seu próprio nome. Foi redator de jornais importantes, como "O País" e "Gazeta de Notícias", fundando depois um diário que dirigiu até o dia de sua morte, "A Pátria". Contista romancista, autor teatral (condição em que exerceu a presidência da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, tradutor de Oscar Wilde, foi membro da Academia Brasileira de Letras, eleito na vaga de Guimarães Passos. Entre outros livros deixou "Dentro da Noite", "A Mulher e os Espelhos", "Crônicas e Frases de Godofredo de Alencar", "A Alma Encantadora das Ruas", "Vida Vertiginosa", "Os Dias Passam", "As religiões no Rio" e "Rosário da Ilusão", que contém como primeiro conto a admirável sátira "O homem da cabeça de papelão". Nascido no Rio de Janeiro a 05 de agosto de 1881, faleceu repentinamente na mesma cidade a 23 de junho de 1921.

O texto acima foi extraído do livro "Antologia de Humorismo e Sátira", organizada por R. Magalhães Júnior, Editora Civilização Brasileira — Rio de Janeiro, 1957, pág. 196.

Fonte: http://www.releituras.com/joaodorio_menu.asp